A Formação do Professor de Ciências para o Ensino da Química do 9° ano do Ensino Fundamental – A Inserção de uma Metodologia Didática nos Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas


A Formação do Professor de Ciências para o Ensino da Química do 9° ano do Ensino Fundamental – A Inserção de uma Metodologia Didática nos Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas


NELSON LAGE DA COSTA
Mestre em Ensino de Ciências, Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Castelo Branco, UCB, Brasil


Resumo
Na tentativa de ajudar a minimizar a atual problemática: “a quem compete ensinar a ensinar”; este trabalho tem como objetivo divulgar uma metodologia didática “diferente”, um “modus operandis”, para ensinar futuros professores, atuais licenciandos, a ensinar os tópicos abordados na disciplina de Ciências no 9° ano de escolaridade. A proposta, diferentemente das propostas apresentadas nos atuais cursos de formações continuadas, foi desenvolvida para ser aplicada ainda durante o processo formativo, na disciplina de Práticas de Ensino, durante a realização da Licenciatura. Este manual disponibiliza, em um só compêndio, as melhores didáticas específicas para ensinar os alunos do 9° ano do ensino fundamental, os assuntos ministrados na série, congregando uma sequência de aulas práticas que poderão ser realizadas em sala de aula, aulas teóricas e sites de pesquisas com o uso da INTERNET. É uma tentativa de levar para a licenciatura, técnicas que infelizmente os professores só tomam conhecimento depois de formados.

Palavras-chave: Metodologia Didática, Formação de Professores, Ensinar a Ensinar.


Introdução

Neste trabalho é apresentada uma proposta que é considerada a priori, um tanto quanto renovadora – inovadora, em razão da discussão que se faz acerca da relação entre o conteúdo e a prática na busca de novas metodologias didáticas mais apropriadas aos cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas ao que se refere às técnicas de ensinar a ensinar.
O objetivo principal é propor uma metodologia didática mais adequada à linguagem dos atuais licenciandos em Ciências Biológicas. Uma metodologia didática que seja capaz de ensinar aos futuros professores a ensinar os tópicos de química abordados na disciplina de Ciências no 9° ano de escolaridade. Esta proposta é diferente das atuais propostas oferecidas nos “cursos de formação continuada”, tendo em vista se tratar de um método idealizado para ser inserido e aplicado ainda nos cursos de formação inicial dos professores de Ciências. O que é oferecido através desta metodologia é apenas uma pequena amostra de um trabalho que é fruto da vivência de quase trinta anos de experiência no magistério, tanto no Ensino Fundamental, no Ensino Médio, bem como no Ensino Superior em Instituições da rede de ensino público e particular.
Além do objetivo principal, já citado, há ainda um objetivo julgado secundário, mas não menos importante, que é contribuir na discussão acerca do ensino de química junto aos formadores (a quem compete ensinar a ensinar) e das instituições de Ensino Superior para a revisão dos conteúdos teóricos e práticos que vêm sendo transferidos aos licenciandos durante a formação, na disciplina de Práticas de Ensino. Conteúdos que, além de serem muito superficiais, carecem de qualidade no que se refere à utilização de antigas e novas tecnologias.
Alerta-se, entretanto, para o fato de que a proposta aqui apresentada é uma mescla das tantas propostas apresentadas por diversos autores para o ensino da Química. Em sua maioria, propostas de excelente qualidade e cheias de boas intenções, mas que têm permanecido muito distantes do processo formativo, dentro dos cursos de licenciaturas, na prática de ensino.

A Formação do Professor para o Ensino de Ciências

Voltando as atenções às carreiras ligadas ao eixo temático do ensino de ciências, foco central desta pesquisa, muito provavelmente serão encontradas diversas falhas em todos os processos de formação dos professores para atender a área das Ciências. Apontar culpados por essas falhas não é elegante e omiti-las não é de forma alguma, honesto. Portanto, serão considerados, de forma preliminar e cuidadosamente, alguns aspectos acerca das licenciaturas ligadas ao ensino de Ciências.
Desde a infância, é importante aprender Ciências. Esta é, sem dúvida, uma afirmação de caráter unânime no meio científico e no meio docente, além de ser uma fala já demasiadamente desgastada. Se o ensino de Ciências for bem feito, ajudará a criança a compreender o mundo em que ela vive. A cultura tem como forma primordial projetar o futuro. A Ciência, quando tratada como cultura, imagina e projeta o futuro. E, além disso, é capaz de criar muitas utopias. Desta forma, entende-se que a Ciência é fundamental desde a infância. É importante ainda integrar a história da Ciência ao ensino de Ciências, e a história das ciências é considerada como um obstáculo muito grande para muitos dos professores recém formados.
A história da ciência, quando inserida nos cursos de licenciatura, não deve ser limitada a um mero relato cronológico dos fatos ocorridos ao longo da história da humanidade. Segundo Pavão (2008), a inserção de tópicos da história da ciência deve levar os licenciandos não somente a um profundo debate a cerca de fatos relevantes. Mas levá-los “ao entendimento da natureza essencialmente humana e do empreendimento científico”, comportamento muitas vezes deixado de lado pelos formadores.
É preciso lembrar também que a Ciência não é feita somente de observação dos fenômenos naturais ou dos registros históricos. Se assim o fosse, bastaria somente ensinar através de aulas práticas ou através de livros de história da ciência. Ela é feita de muita criação e é também muito poética. Mas a Ciência é muito diferente da arte, pois a Ciência precisa de comprovação e a arte, não. Sendo assim, pode-se afirmar que, mesmo a contragosto de muitos dos leitores, a química é linda e a física é fascinante, em todos os aspectos. Não se pode ter, de forma alguma, uma metodologia rígida no ensino de Ciências, pois a curiosidade, a imaginação e a criatividade devem ser tratadas como fundamentais para as crianças, para os adolescentes e para os professores, assim como o são fundamentais para os cientistas.
Nardi, Bastos e Diniz (2004), afirmam que o educador deve possuir habilidades na utilização e aplicação de procedimentos de ensino. É o que os autores chamam de "arte de ensinar". É preciso desejar ensinar, querer ensinar, ter paixão por essa atividade. E estes sentimentos são necessários já no início da formação do professor e não somente ao final da Licenciatura em uma meia dúzia de atividades de prática docente ou através de algumas poucas horas em um estágio supervisionado.
Um dos maiores críticos a respeito dessa rigidez metodológica foi o físico e filósofo Paul Feyerabend (1924 - 1994), que defendia a importância da imaginação criadora nos rumos das Ciências. O conhecimento científico é fundamental, para todo mundo, seja para um cientista ou mesmo para uma criança. Se o ensino de Ciências for bem feito, sem dúvida trará consequências sociais positivas e novos rumos para a nossa sociedade. É notório que o mundo e os seres humanos que nele habitam, precisam do desenvolvimento da Ciência. E o ensino dessa Ciência tem que se relacionar com a vida, ter sentido. Quem ensina Ciências, normalmente, é um apaixonado, uma criança, um cientista. O professor de Ciências deve ser capaz de ligar a Ciência com o mundo. Uma conectividade integral e permanente, sem interrupções, sem “bugs”. Cabe ao professor de Ciências “abrir a cabeça” das crianças e dos jovens para o mundo, dar ao indivíduo uma introdução à formação científica para que o mesmo possa entender como os fenômenos estão acontecendo em sua volta e saiba, desta forma, interpretar o mundo.
O espírito científico existe e deve ser desenvolvido na criança, no adolescente, no licenciando, no professor e no pesquisador, mas esse espírito deve ser desenvolvido em modalidades e graus diferentes. A Ciência, seja ela natural ou exata, está hoje, intimamente ligada a tudo o que se passa no planeta, seja pelas consequências da atividade humana, seja pela própria compreensão de como funciona o planeta como um todo ou o grande ecossistema planetário.
Esse tipo de conhecimento e de espírito científico é fundamental para a sobrevivência da civilização e da cultura, para que a humanidade não seja levada a um grande desastre, e o pior, um desastre irreversível. Para isso, é importante a compreensão dos fenômenos que regem o planeta e a influência do homem sobre eles. Sendo assim, é da responsabilidade dos futuros professores, os licenciandos de hoje, explicar didaticamente esses fenômenos, aproveitando cada oportunidade oferecida pelo dia-a-dia da vida das crianças e dos adolescentes.
Para complementar esta análise, ressalta-se de Astolfi (2008) a afirmação de que a didática, com o espírito eminentemente pedagógico, tem a capacidade de propor diferentes conceitos que podem concorrer na instrumentação dos professores de Ciências em termos de previsão, de observação, análise, gestão, regulação e avaliação de situações de aprendizagem e de ensino. Tudo isso em favor dos aprendizes de Ciências, os alunos, que serão os futuros professores e os futuros cientistas. Mas, infelizmente, de acordo com o que expõe Cunha (2006), o Ensino Médio (EM) brasileiro cresceu, mas não houve uma expansão na formação de professores para as áreas de Ciências.
No início dos anos 90 do século passado, o número de matrículas no Ensino Médio passou de 3,77 milhões de estudantes e no ano de 2000 chegou a 8,19 milhões. Os cursos de formação de professores realizados pelas universidades brasileiras públicas e particulares, para atuar no Ensino Básico não conseguiram atender a essa demanda. De acordo com dados do Ministério da Educação (MEC, 2005), necessita-se ainda de 235 mil docentes em todas as áreas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. No caso da Química, ponto central desta pesquisa, o déficit de licenciados é da ordem de 23,5 mil.
No período de 1990 a 2005, graduaram-se 13.504 professores de Química em todo o Brasil (MEC, 2007). Se for incluída a necessidade de docentes com formação em Química para atender ao 9° ano de escolaridade do Ensino Fundamental, haverá um acréscimo na demanda de mais 32 mil profissionais (INEP, 2003). Ressalta-se ainda, que esses números aumentam ainda mais se for levado em conta que quase 15% dos professores de Química em serviço no Ensino Fundamental e Médio no Brasil carecem de formação específica na área (MEC, 2005). São profissionais com titulação nas áreas de engenharia e outras carreiras técnicas que atuam como professores tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio.
Tendo em vista a importância dos dados apresentados acima, para melhorar o ensino de Ciências, e atender à demanda que aumenta a cada ano, é necessário que o número de professores formados para atuarem nessa área cresça. Todavia, segundo Borges (2006, p. 136), aumentar a quantidade de professores não seria uma atitude suficiente, “é preciso melhorar a qualidade dos professores recém formados”. Diante destes dados, vários são os questionamentos que devem ser formulados: Como disponibilizar no mercado um número suficiente de professores que possam atender a demanda? E mais que isso, que sejam bons profissionais. Qual seria, neste caso, a atitude mais coerente a ser tomada pelas autoridades da educação?
Suprir as vagas com uma formação rápida e imediata, formando a qualquer custo pessoas que comprovadamente não teriam a menor condição de assumir a vaga de professor tenderá a piorar ainda mais a situação em que se encontra o ensino de Ciências. Por outro lado, ter calma e formar, em médio prazo, profissionais eficientes e dispostos a reverter a situação atual do Brasil é certamente mais prudente.
Para estes questionamentos, Cunha (2006, p. 151) apresenta algumas respostas. Segundo o autor, o MEC tem proposto ações que visam corrigir essa carência. Sendo que várias dessas ações passam pela disponibilização de recursos através de editais e outras formas de fomento que buscam fundamentalmente, a melhoria das licenciaturas e a ampliação do número de vagas. Trata-se, portanto de uma política de governo que priorize recursos em prol da formação dos futuros professores.
A falta de professores com nível superior é uma das principais carências da educação básica. Em 2005, o MEC abriu 17.585 vagas em Cursos de Graduação à Distância em parceria com 37 instituições públicas de ensino superior, em todas as regiões do país. O objetivo era formar novos docentes nas áreas de Pedagogia, Química, Física, Matemática e Biologia e, assim, suprir a demanda por professores nessas áreas especialmente, na rede pública de ensino.
A preocupação do MEC a partir de 2005 foi a formação de novos docentes para atender principalmente a área de ciências (Química - Física - Biologia). Preocupação que se repete no ano de 2009 com a implantação do Programa Emergencial de Segunda Licenciatura para Professores em exercício na Educação Básica Pública, coordenado pelo MEC em regime de colaboração com os sistemas de ensino e realizado por instituições públicas de Educação Superior. Ressalta-se ainda que além de uma segunda licenciatura, como propõe o governo, a formação continuada e a atuação multidisciplinar são exigências cada vez mais presentes na vida dos professores, no mundo atual.
Anteriores ao Programa Emergencial de Segunda Licenciatura para Professores, o MEC propôs como algumas das soluções para a formação de professores com vistas ao Ensino Básico, a modalidade da formação de professores à distância. Os exemplos mais recentes de atuação do governo nesse sentido foram o Edital CT-INFRA/FINEP-01/2003; a Chamada Pública MEC/SEED-001/2004; e o Programa Pró-Licenciatura Resolução CD/FNDE n° 34, de 9 de agosto de 2005. Os resultados desses trabalhos ainda são pouco significativos, diante das necessidades atuais da educação com vistas ao suprimento das carências apontadas.
No entanto, em todos os programas implantados pelo governo, falta ainda, na formação docente, profissionais que realmente ensinem aos futuros professores a “arte de ensinar”. É muito bonito poder usar o termo a “arte de ensinar”, no entanto, é desestimulante e algumas vezes pode ser considerado deprimente saber que muitos dos professores de Química que trabalham no Ensino Básico desenvolvem em sua prática docente a memorização de fatos, tabelas e fórmulas sem que haja uma citação ou uma ligação, por menor que seja, com a história da química. Da mesma forma, como as suas aplicações na resolução de exercícios, sem que haja, por parte do aluno o desenvolvimento do pensar científico. Esses professores o fazem não por mero acaso, mas por reproduzir a abordagem e os métodos de ensino de Química que vivenciaram em sua formação.
É fácil perceber que em uma grande quantidade das escolas brasileiras, os professores da atualidade, reproduzem uma forma de lecionar idêntica a que lhes ensinaram seus ex-professores no Ensino Médio ou na Licenciatura. Outra observação que deve ser feita é que muitos dos professores de Ciências não valorizam o desenvolvimento do pensar científico. Esses professores não se preocupam em ensinar aos alunos, a forma de planejar e conduzir investigações, como desenvolver habilidades de argumentação e de comunicação de ideias científicas. Na sua formação, esses professores não tiveram acesso a esse tipo de ensino e acabam por ensinar os conteúdos de Ciências, em suas aulas, reproduzindo o ensino que tiveram em sua formação inicial.
Certamente, na intenção de se tentar amenizar o problema, nos últimos anos, houve um crescimento significativo do número de encontros, simpósios, congressos e periódicos apresentando pesquisas que possam melhorar a qualidade da formação de professores de Ciências. Porém, infelizmente, muitos docentes universitários não aplicam os resultados das pesquisas científicas em prol do aprimoramento das suas práticas educacionais. Os formadores não estão levando para a formação dos professores os resultados das excelentes pesquisas que estão sendo desenvolvidas dentro e fora do país.
Em estudo elaborado por Carvalho e Gil-Pérez (2003) os autores apontam um conjunto de conhecimentos que proporcionam uma visão da atividade docente. São habilidades possíveis de serem adotadas no que se refere à formação de professores de Ciências, bem como a sua aplicação no Ensino Básico. Segundo os autores, o essencial é que se possa ter um trabalho coletivo em todo o processo do ensino e da aprendizagem. Processo que deve ser desenvolvido desde a preparação das aulas culminando com um processo eficiente de avaliação.
Durante a leitura dos trabalhos de Carvalho e Gil-Pérez notou-se que os autores concebem a formação do professor como uma profunda mudança didática, que deve questionar as concepções docentes de senso comum. Os autores constatam a necessidade de um abrangente conhecimento da matéria e da apropriação de uma concepção do ensino e da aprendizagem das Ciências como construção de conhecimentos. Tal apropriação, para que seja possível um desdobramento do modelo vigente de transmissão e de recepção, deverá estar teoricamente fundamentada e deve ser fruto de uma vivência reiterada das novas propostas teóricas, extrapolando desta forma, o período necessariamente breve da formação inicial.
Da mesma forma, Zabala (1998) propõe que a complexidade dos processos educacionais faça com que dificilmente se possa prever o que acontecerá na sala de aula. Sendo assim, o autor aconselha que os professores detenham um maior número de estratégias para poder atender às diferentes demandas que poderão aparecer no transcurso do processo de ensino e de aprendizagem. Sendo assim, a preparação do docente para o exercício da sua profissão deverá estar associada, dessa maneira, às tarefas de pesquisa e inovação permanentes desde o início da sua formação e não somente restritos ao último ano da licenciatura, como são propostos por grande parte das instituições formativas de professores em algumas horas de estágio supervisionado. O que seria de certa forma, um caminho, mas, com certeza, não o suficiente.
Em seu trabalho, Delizoicov (2007) enfatiza, de forma bem categórica, que em relação à formação inicial de professores seria interessante o estímulo a realização de uma pesquisa e/ou de levantamentos sobre o uso dos resultados de pesquisas realizadas e aplicadas pelos docentes. Delizoicov pressupõe que o professor formador desempenhe um papel exemplar para a atuação docente, tanto ao adotar práticas consistentes com os resultados de pesquisa como ao manter práticas tradicionais de ensino.
Enfim, para Delizoicov, uma pesquisa que tenha como foco o impacto da produção da área na atuação do docente formador, poderia fornecer elementos fundamentais e elucidativos da importância da pesquisa para o ensino de Ciências. Mas é importante ressaltar que, se for olhado para um passado bem próximo, a maioria dos professores com títulos de especialistas, mestres e doutores, que lecionavam em cursos universitários não passavam por qualquer formação pedagógica, alegando não haver necessidade devido ao fato do professor de curso superior lidar com “adultos”.
Com o advento dos atuais mestrados profissionais do ensino de ciências em funcionamento, no país e já atingindo também os cursos de doutorado, a formação pedagógica dos formadores de professores tende a melhorar. Desta forma, a preocupação, na academia, passa a ser maior com a motivação para aprendizagem e, consequentemente, espera-se uma diminuição dos problemas com as disciplinas pedagógicas, como em outros níveis de ensino (GIL, 2005). Ou seja, para os antigos formadores de professores, qualquer disciplina de área pedagógica só era aplicada basicamente em crianças e adolescentes, não sendo necessária ser trabalhada com turmas de adultos. Muitas teorias como essas foram aceitas durante muito tempo, e se alteraram a medida que houve um crescente aumento do número de pessoas que chegavam à universidade.
Os cursos universitários têm se tornado cada vez mais específicos e o controle sobre a qualidade cai, devido à quantidade de cursos oferecidos. É notória a falta de preocupação com a qualidade. Tudo isso relacionada a uma visão mais crítica do ensino, conduzem a identificação da necessidade de o professor universitário dotar-se de conhecimentos e habilidades de natureza pedagógica. Segundo Gil (2005) nos últimos cinco anos tem crescido consideravelmente a crítica de alunos de cursos superiores ao fazerem a apreciação de seus professores. Estes alunos têm ressaltado negativamente a competência técnica dos seus professores além de criticarem a competência didática. Esse tipo de situação ocorre muitas vezes porque o professor universitário domina o conteúdo das disciplinas que ministra, mas infelizmente, não sabe conduzir o desenvolvimento do conhecimento em questão para o aluno de forma didática por, às vezes, possuir conhecimento pedagógico insuficiente ou até mesmo não o possuir.
Notadamente, boa parte da responsabilidade acerca da desvalorização da preparação pedagógica dos professores deve-se à própria universidade, que nem sempre valoriza o professor no desempenho de suas funções docentes, Gil (2005).
É sabido que um grande número de universidades privilegia as atividades de pesquisas tecnológicas em detrimento do exercício de pesquisas em práticas docentes. Este privilégio justifica-se em função dos recursos públicos e privados que este tipo de atividade proporciona, e pelo status acadêmico que confere às instituições onde estas se realizam. Em outras palavras, as pesquisa em áreas tecnológicas geram mais recursos financeiros do que a pesquisa no ensino.
Ainda nesse contexto, infelizmente o Exame Nacional de Cursos é o único instrumento do governo destinado a examinar a qualidade do ensino ministrado nas Universidades, resultando daí, provavelmente, um menor envolvimento dos docentes com as atividades de ensino, que encontram na pesquisa uma maior compensação financeira sem que haja uma contribuição substancial para a melhoria na qualidade de ensino (Lisita, 2001).
Ainda no enredo proposto neste tópico, sobre a formação do professor para o ensino de ciências, torna-se providencial passar para um novo questionamento: Quais os objetivos do ensino de Ciências?
Para analisar esse questionamento, é possível um posicionamento sobre os pilares dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Neles são identificadas as capacidades que os alunos devem desenvolver até a conclusão do Ensino Fundamental. São elas:
·           Compreender a natureza como um todo dinâmico e o ser humano, em sociedade, como agente de transformação do mundo em que vive em relação essencial com os demais seres vivos e outros componentes do ambiente;
·           Compreender a Ciência como um processo de produção de conhecimento e uma atividade humana, histórica, associada a aspectos de ordem social, econômica, política e cultural;
·           Identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de vida no mundo de hoje e em sua evolução histórica, e compreender a tecnologia como meio para suprir as necessidades humanas, sabendo elaborar juízo sobre riscos e benefícios das práticas científico-tecnológicas;
·           Compreender a saúde pessoal, social e ambiental como bens individuais e coletivos que devem ser promovidos pela ação de diferentes agentes.
É sabido, por todos os professores de Ciências, que para os alunos alcançarem esses objetivos, três fatores considerados fundamentais devem ser levados em conta durante o processo formativo:
I)                            A qualidade do trabalho desenvolvido pelo professor;
II)                         A qualidade dos recursos utilizados nas aulas e;
III)                       A qualidade dos alunos.
Para Becker (2008), como o conhecimento, em qualquer nível, depende da qualidade da sua construção, ocorrida no período sensório-motor e prolongada no simbólico, a disponibilidade diferenciada de espaço tende a determinar diferenças na qualidade da construção dessas categorias, facilitando ou comprometendo a construção futura do conhecimento. Facilitando ou comprometendo a capacidade de aprendizagem dos alunos na sala de aula.
Se for considerada a falta de qualidade do trabalho dos professores, haverá um comprometimento da qualidade das aulas e certamente de nada adiantará alunos com qualidade. Em contrapartida, de nada adiantaria um professor qualificado diante de um aluno que se negasse ao aprendizado. É o professor que, qualificando suas aulas, poderá atrair os alunos para um melhor ensino e com muito mais qualidade no aprendizado. Mas infelizmente, o trabalho do professor, segundo Lelis (1996, p.128), “ainda é isolado e fragmentado”, embora já se tenha observado recentemente a tentativa de alguns grupos de refletir sobre a qualidade de suas ações, o que tem levado inclusive ao redimensionamento dos conteúdos e das próprias estratégias de ensino. As referencias são os grupos de Educação em Química e de História da Ciência.
O ser humano, desde o seu nascimento, tem um longo caminho a ser percorrido até que esteja completamente inserido na comunidade em que vive. Num contexto cada vez mais complexo e globalizado, as escolas e os professores têm a importante tarefa de facilitar essa introdução na sociedade, oferecendo aos alunos todas as situações possíveis que possam promover a construção de uma boa cidadania para então, poder construir um aluno qualificado. Cabe ao professor, o importante papel de estimular, ajudar, promover, facilitar, orientar, persistir, motivar, planejar, sempre com o objetivo de conseguir o crescimento de seus alunos. Todavia, embora a educação se dê no aluno, sempre com sua participação e seu consentimento, cabe ao professor a tarefa de apoiá-lo, ajudando-o a vencer os obstáculos e, principalmente, a falta de motivação, para impulsioná-lo ao efetivo aprendizado.
Desta forma, o professor, como profissional de educação é o elemento qualificado para ajudar os alunos no processo de humanização e formação. Porém, acrescente-se ainda que, não é o professor o único a colaborar com as mudanças no enfoque educacional. Além do professor, acrescente-se ainda a escola, a sociedade e os governos, seja em que esfera for: federal, estadual ou municipal como colabores às mudanças no enfoque educacional da atualidade. Todos, que direta ou indiretamente, tenham envolvimento com a educação e com a formação de professores devem repensar o papel da educação e da formação, fornecendo os subsídios necessários para que essas mudanças realmente aconteçam. E cabe aqui ressaltar mais uma vez a importância não só dos cursos de formação continuada do professor e as equipagens (laboratórios, projetores, etc.) das escolas, mas que os subsídios necessários às mudanças atinjam também a formação inicial dos professores.
Mas afinal, como então, diante de tantos entraves pode o professor, ensinar melhor os assuntos ligados às Ciências? Estes temas não são de simples abordagem e não oferecem, por maior e melhor que seja a pesquisa, respostas rápidas e soluções de simples execução. Neste trabalho, ao traçar estratégias e fazer escolhas, inevitavelmente deixam-se de lado algumas ideias para apostar em outras, mas sempre procurando seguir um propósito claro, objetivo e coerente, ao mesmo tempo em que se propõe dar uma funcionalidade à realidade enfrentada em salas de aulas especificamente durante as aulas de química ministradas ao 9° ano de escolaridade.
Não pode ser esquecido, o fato de que cada professor, de acordo com sua experiência, vai conhecendo ou desenvolvendo formas próprias de conduzir a aula e adequá-la à turma com a finalidade de atingir seus objetivos. Neste trabalho, houve a opção pelo programa de química do 9° ano de escolaridade. Mas, como ensinar ou planejar sobre tópicos que não se dispôs de uma formação adequada? Como ensinar um conteúdo que não foi aprendido? Ou melhor, que técnica usar para se ensinar adequadamente um determinado conteúdo? É sabido, como já citado anteriormente, que o professor durante a sua formação deve ser preparado para formar cidadãos críticos. Cidadãos conscientes e capazes de compreender os temas científicos, compreender o funcionamento da tecnologia colocada a sua disposição e serem capazes de aplicá-las para o entendimento do mundo e da sociedade em que vivemos, sempre preocupados na preservação do meio ambiente.
Trata-se, portanto da capacidade de desenvolver e aprimorar técnicas de ensinar Ciências (e aqui não somente a química mas também a física e a biologia). E nos dias atuais é de fundamental importância que todos os professores, e não somente os de Ciências, tenham a capacidade de lidar com as questões da Ciência, do meio ambiente e da tecnologia, pois elas interferem diretamente na vida e no mundo como um todo.
São muitas as razões que dão relevância ao ensino bem feito de Ciências na vida das pessoas, seu entendimento e sua utilização no dia-a-dia levam a pensar na conservação da energia, na reciclagem de materiais, na conservação do planeta. E um tema que vem sendo muito discutido diz respeito à “alfabetização científica”. Todos os profissionais da área de educação acreditam que seja um bom caminho a ser seguido para o ensino de Ciências. Mas será que os professores, formados nos últimos dez anos ou mesmo anteriormente, foram alfabetizados cientificamente?
Entende-se como alfabetização científica aquela que tem como significado maior, a busca de um indivíduo com capacidade de compreender e de interagir com a informação, aplicando-a nas mais diversas situações. Neste sentido, a alfabetização científica deve priorizar sempre a divulgação do conhecimento científico com vistas a sua aplicação no dia-a-dia. Entende-se Ciência como instrumento para a cidadania e constituidora da formação de uma sociedade mais consciente cientificamente. Talvez seja este um bom caminho para que o ensino de Ciências não seja resumido à simples transmissão de informações. Como os próprios adolescentes sempre se referem, e com razão, as aulas de ciências são sempre cheias de nomes estranhos e coisas que nunca viram e que certamente muitos ainda continuarão sem as ver.
O que se tem visto nas salas de aula são formas antigas de ensinar. Mesmo com professores recém formados, essa prática é constante. São conteúdos em demasia, estímulo a decoreba e confecção de questionários. Não se deve, de forma alguma, resumir as aulas ao simples “passar conteúdo”; o que certamente se deve pensar para as aulas é que estas deverão ser capazes de informar; levar os alunos a pensar, questionar, interagir, opinar e transformar a própria realidade. Mas, para, além disso, é preciso abandonar algumas crenças e várias formas arcaicas de ensinar. Para Lelis (1996, p. 63), há uma necessidade imediata de mudança do currículo, sobre a natureza dos conhecimentos transmitidos, sobre as formas de ensinar e principalmente sobre a necessidade de articular a prática em sala de aula às necessidades das escolas, seja em que nível for.
No entanto, não é necessário um grande esforço para motivar os adolescentes. Basta aproveitar sua própria curiosidade, suas muitas perguntas e a vontade de saber que estes jovens possuem. O professor deve aproveitar para estimular, nos alunos, o confronto entre o conhecimento científico e os saberes populares que certamente todos possuem. Os professores devem fazer com que seus alunos se tornem críticos. Devem aproveitar ainda, as informações oferecidas pelos meios eletrônicos de comunicação que tanto prendem a atenção dos jovens.
Mas, como fazer com que o aluno se torne crítico? É necessária uma desconstrução das suas certezas e uma reconstrução dos novos modelos. Mas o professor deve estar atento para o fato de que o aluno deve ser constantemente estimulado, com informações coerentes e a sua maneira, no seu tempo. Devem ser propostas questões motivadoras e não enfadonhas.
A tarefa do professor não é simplesmente a de obrigar os alunos a ler os textos propostos nos livros didáticos e a responder os exercícios. Cabe aos professores, durante as aulas, estimularem os alunos, fazer os alunos pensar, propondo problemas desafiadores, semeando algumas incertezas, mostrando novos caminhos. Um requisito indispensável ao questionamento reconstrutivo, segundo Demo, (1997, p. 22) é que ele tenha qualidade formal e política, ou seja, "há de ser formalmente lógico, bem sistematizado, argumentado da melhor maneira possível, elaborado rigorosamente". Isso justifica a importância do exercício da leitura e da escrita em sala de aula. Todavia, não se deve esquecer a importância das aulas práticas.
Notadamente, a incerteza também vale como contribuinte para os conhecimentos científicos. É necessário que o professor de Ciências transmita aos alunos que é preciso duvidar sempre e nunca acreditar em tudo aquilo que está escrito. O aluno deve ver acontecer. A dúvida desperta a vontade de saber mais e para saber mais, o experimento é sempre bem vindo.
O professor deve estar ciente de que saber expressar-se e compreender uma linguagem é atribuir significado à informação, é dar sua própria interpretação de algo, é, por fim, aprender. E, sendo assim, aprender Ciências envolve o conhecimento de um vocabulário específico, de uma estrutura de pensamento e um modo diferente de ver o mundo. É uma assertiva quando dizemos que ler e fazer Ciências tem muito em comum. Em ambas as atividades é preciso dispor de conhecimentos prévios, de fazer hipóteses, de determinar a relevância da informação, de comparar, de fazer pausas para avaliar a compreensão e de detectar eventuais falhas.
Como breve conclusão, existe, segundo Pozo (2009), o perigo de, em alguns momentos, alguns alunos não terem discernimento suficiente para diferenciar entre os processos para fazer ciências e os processos para aprendê-la, que é a verdadeira tarefa que os alunos devem enfrentar. E cabe ao professor, ser o guia desses alunos para que possam suplantar esse obstáculo. Mas para que os futuros professores possam se tornar verdadeiramente guias dos alunos, estes devem ser bem preparados e esta preparação só é possível através de uma boa prática de ensino.

A Prática de Ensino e as Licenciaturas

Resta ainda tratar da relação que se estabelece nos cursos de formação de professores entre a prática de ensino e a didática, seus entendimentos conceituais e ideológicos. A expectativa neste tópico é pura e simplesmente colaborar com a melhoria do formato hoje adotado nas licenciaturas em relação à disciplina de Práticas de Ensino. A inclusão de uma metodologia didática mais adequada ao ensino da química na disciplina de Prática de Ensino poderá contribuir sobremaneira com a qualidade na formação dos futuros professores.
Inicialmente torna-se necessária uma breve discussão a respeito de como se colocam nos dias atuais a disciplina de Prática de Ensino nas Licenciaturas em Ciências Biológicas, tendo como base, as recentes pesquisas em Ensino de Ciências. Em seguida serão traçados alguns conceitos acerca de didática e suas implicações na prática docente.
Deve ser registrado a priori que a Prática de Ensino sempre teve, ao longo de sua existência, forte relação com as disciplinas didáticas e com os Estágios Curriculares ou, como em algumas Universidades são chamados, Estágio Supervisionado, e que esse elo sempre foi muito forte. Pois, como encontrado em Pimenta (2008, p. 106), “o termo pedagogia, pela influência do movimento escolanovista, foi sendo associado cada vez mais à docência”. A formação pedagógica vai tendo o seu significado, cada vez mais, na preparação metodológica do professor, na prática de ensino, no desenvolvimento e nas habilidades de ensinar e, cada vez menos, na teoria da educação, no campo da investigação sistêmica.
Não é objetivo desta pesquisa aprofundar estudos sobre o que vem sendo desenvolvido em relação aos currículos. No entanto, não se pode deixar de citar Maldaner (2003, p. 51), que diz que “os currículos de formação profissional, com base na racionalidade técnica derivam do Positivismo”. Estes currículos tendem a separar o mundo acadêmico do mundo da prática e, assim, manter o monopólio da pesquisa.
Segundo Schön (1992), os currículos procuram proporcionar um conhecimento básico sólido no início do curso, com subsequentes disciplinas de ciências aplicadas desse conhecimento para, finalmente, chegarem à prática profissional, com os diferentes tipos de estágios. Todavia, dentro do campo da pesquisa em Educação, muitas discussões já foram travadas sobre a especificidade e a ineficiência das disciplinas de práticas de ensino e os estágios supervisionados.
Os próprios professores das licenciaturas, em sua maioria, como citado em Nardi, Bastos e Diniz (2004, p. 101), não agem como formadores de professores e sim como preparadores de "técnicos em ensinar". O que parece deixar transparecer uma visão de educação completamente equivocada, segundo a qual cabe ao professor somente a responsabilidade de transmitir os conhecimentos de sua disciplina, e ao aluno, cabe incorporar esse conhecimento pronto e acabado. Entretanto, há ainda outro problema relacionado a este. Nos cursos de licenciatura o estudo sobre teorias de educação, ensino e aprendizagem é muitas vezes feito de forma muito acanhada e isso acaba por gerar a ideia de que as disciplinas pedagógicas são inúteis e as questões da educação, por conseguinte, passam a ser desinteressantes. Diante destas considerações iniciais, faz-se necessário discutir criticamente, e alicerçado na bibliografia consultada, as perspectivas e as tendências atuais a respeito da disciplina Práticas de Ensino, no que se refere ao ensino de ciências, especificamente para o 9° ano de escolaridade do Ensino Fundamental.
Além dessa discussão, faz-se necessário criar uma ligação direta desta disciplina com as Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores. Como já mencionado, a história da Prática de Ensino no Brasil remonta da década de 1930. E desses quase oitenta anos, já há quase trinta anos muitos pesquisadores da área da educação vêm discutindo e refletindo tempestivamente, acerca da ligação da Didática com a Prática de Ensino e sua consolidação como disciplina de caráter fundamental nas Licenciaturas, apesar de sempre ter havido entre elas uma relação forte e marcada por um caráter de complementaridade.
Segundo Maldaner (2003), ainda que, com uma prática explícita, por parte dos responsáveis pela implantação das reformas educacionais a partir da atual política educacional, de não ouvir os professores, de implantar controles sobre os sistemas educacionais, de desenhar parâmetros curriculares universais para todas as escolas e de desenvolver estratégias centralizadas de formação de professores, a história mostra que não se conseguirá a homogeneidade, pelo contrário, a resistência sempre existiu por parte de educadores, instituições de ensino e, mesmo, administradores educacionais.
Maldaner (2003, p. 21) registra ainda que os educadores e professores brasileiros estão engajados na luta por uma educação de melhor qualidade desde há muito tempo e de forma mais organizada e consensual a partir da década de 80. Diferente do encontrado em toda a década de 70, onde o pensamento educacional tinha movimento em torno da elaboração de uma "ciência da educação", já não mais nos moldes do pragmatismo, mas do neopositivismo, nas formulações do empirismo lógico e filosofia analítica (Pimenta, 2008).
Antes de prosseguir, deve ser proposta uma dualidade de ideias. A primeira é que os atuais agentes pedagógicos formadores se situam colocando a Prática de Ensino sob a forma de Estágio Supervisionado, sempre como tarefa exclusiva da Didática, segundo a legislação atual. E a segunda é como esta disciplina vem, realmente sendo desenvolvida. (a velha história – o que está escrito nos documentos é muito diferente do que se faz efetivamente na prática).
É fato que, nos cursos de Licenciatura, o estágio supervisionado está vinculado ao componente curricular Prática de Ensino, cujo objetivo é o preparo do licenciando para o exercício do magistério em determinada área de ensino ou disciplina, tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio.
Com a promulgação da Lei N° 5.692 de 11 de agosto de 1971, ficou estabelecida a qualificação obrigatória, reservando-se à Didática a aproximação da disciplina de Prática de Ensino com a realidade de sala de aula. Apenas para registrar o conteúdo disposto na Lei 5.692/71; em seu artigo 30, são encontradas as exigências mínimas, para a formação e o exercício do magistério. Este artigo evidencia a existência de dois esquemas: o primeiro, correspondente à formação dada por cursos regulares e, o segundo, correspondendo à formação regular acrescida de estudos adicionais, pressupondo a existência de cinco níveis de formação de professores que eram os seguintes:

·         Formação de nível de 2º grau destinada a formar o professor polivalente das quatro primeiras séries do 1º grau;
·         Formação de nível de 2º grau com 1 ano de estudos adicionais, para formar o professor apto a lecionar até a 6ª série do 1º grau;
·         Formação superior em licenciatura curta destinada a preparar o professor para uma área de estudos e a torná-lo apto a lecionar em todo o 1º grau;
·         Formação em licenciatura curta mais estudos adicionais, preparando o professor de uma área de estudos com alguma especialização em uma disciplina dessa área, apto a lecionar até a 2ª série do 2º grau;
·         Formação em nível superior em licenciatura plena destinada a preparar o professor de disciplina, apto a lecionar até a última série do 2º grau.

Naquela época, acreditava-se que a atividade didática, desenvolvida através da disciplina de Prática de Ensino com a realidade de sala de aula, fosse concebida como um espaço privilegiado na luta para a melhoria na formação de professores e da qualidade do ensino. Mas, infelizmente, não foi essa a realidade alcançada.
Diante da realidade que configura a educação brasileira, parece que a caminhada até os dias atuais não surtiu o efeito esperado, pois são facilmente detectáveis na representação dos professores dois grupos com pensamentos distintos. De um lado, um grupo de professores que atribui a situação deficitária da escola brasileira à má qualidade do corpo docente, de quem cobra vocação, (e só secundariamente preparo pedagógico) dom e aquele furor pedagógico, que realiza verdadeiros milagres, seja qual for a situação; e de outro lado, o grupo de professores que se apegam a uma política educacional que insiste em destinar às salas de aulas professores sem a necessária motivação e vocação que a atual situação educacional exige, (Patto, 1999).
De 1971 até os dias atuais, muitas tendências pedagógicas predominaram, no entanto, a Didática continua até hoje centrada na formação prática do educador. Por conta disso, as demais disciplinas ministradas nas Licenciaturas não têm contribuído para a articulação com o contexto da prática pedagógica desenvolvida nas escolas. Sob a análise de Zanon (2007), no que se refere à Licenciatura, a pesquisa como componente curricular é abordada, geralmente no quinto período do curso, quando este é semestral, e no último ano do curso, quando este é anual, na disciplina Estágio de Licenciatura, quando os licenciandos são introduzidos nas práticas de pesquisa educacional.
A Prática de Ensino não tem acompanhado o movimento das tendências do ensino que vêm se dando ao longo dos últimos anos. Os futuros professores (alunos-estagiários) não têm conseguido perceber, nas raras vezes que entram em sala de aula durante o estágio supervisionado, as dimensões sociais, políticas e pedagógicas do processo educativo.
Para Marques (1992, p. 15), “acima da questão da formação dos educadores coloca-se, frequentemente, o problema dos métodos mais adequados ao ensino”, numa concepção ritualística de método, cujo receituário exigiria apenas dóceis e hábeis aplicadores em práticas predefinidas por outrem. Outro aspecto que não pode deixar de ser comentado, é o fato de que a Prática de Ensino deve ser uma experiência interessante e significativa na vida profissional dos alunos dos cursos de Licenciatura. Mas, o que se vê é que tem sido cada vez maior a presença de uma postura negativa em relação ao estágio escolar.
A justificativa que é ouvida de grande parte desta clientela é que a escola brasileira - especialmente a pública - possui tantos problemas que não é capaz de proporcionar a vivência adequada que os licenciandos precisam em sua formação. E que muitas vezes, estas atividades são substituídas, por muitas instituições e professores formadores, por outros mecanismos como ciclo de palestras, desenvolvimento de projetos e atividades de extensão.
Segundo Bastos & Nardi (2008), os professores iniciantes podem sofrer um “duro choque” já nas situações do estágio supervisionado de licenciatura, o que contribui para que esse professor questione a validade dos conhecimentos pedagógicos transmitidos pela universidade e se desinteresse pela carreira do magistério. E é nesse sentido que pode ser facilmente diagnosticado aqui um dos maiores, senão o maior, dos problemas dos cursos de formação de professores, que é a falta de articulação entre as disciplinas e, principalmente entre o conteúdo ensinado e a prática efetiva.
Tendo em vista o que foi exposto até aqui, cabe agora uma reflexão acerca de algumas questões que se colocam atualmente para os cursos de formação de professores, em especial as Licenciaturas em Biologia para o ensino de Ciências. Para Maldaner (2003), os professores dos institutos ou departamentos de Biologia ao atribuírem às faculdades de educação a tarefa de formar professores estão esquecendo ou ignorando que os conteúdos de química que serão ministrados pelos futuros professores precisam ser pedagogicamente transformados.
Ainda segundo Maldaner (2003), seria ignorar o que Philippe Perrenoud define como “a essência do ensinar”. Existe uma tendência de que esses cursos, em seus currículos, contemplem uma profunda reflexão do professor sobre a prática pedagógica. Pois que haja então uma real compreensão do papel social da escola, e uma identificação dos saberes presentes nas estratégias e táticas desenvolvidas no cotidiano. Além, de uma maior identificação dos elementos referentes à construção do currículo, à relação professor-aluno, às metodologias de ensino e, às concepções de ensino-aprendizagem. É importante que haja, por parte dos futuros professores, o domínio não só dos conteúdos como também das competências pedagógicas necessárias para o trabalho educativo no mundo contemporâneo.
Em Galiazzi (2003, p.24) há um aspecto positivo a ressaltar nas Licenciaturas: “é a importância das disciplinas integradoras”, e aqui, destaca-se a Prática de Ensino e a Didática. É importante que o professor dessas disciplinas domine tanto o conteúdo específico quanto o pedagógico, além de se dedicar à pesquisa sobre ensino desses conteúdos. E essas disciplinas precisam permear o curso desde seu início.
Não é possível haver contentamento com a ideia de que as aprendizagens são muito fortes e difíceis de serem transformadas. Se for pensado dessa forma, apesar de toda a pesquisa educacional, haverá a obrigatoriedade de aceitar, em última instância, que o professor tradicional, seja o melhor caminho a seguir e a solução aos problemas das Licenciaturas, Galiazzi (2003).
Deve ser observado que a relação teoria-prática deve ser garantida na matriz curricular dos cursos de formação inicial de professores, em especial na Prática de Ensino das áreas das Ciências (aqui a Licenciatura em Ciências Biológicas). Sob este prisma, essa disciplina deve promover a articulação dos saberes específicos com aqueles pedagógicos, procurando incorporar ao seu programa as questões que se colocam hoje tanto no campo educacional como na educação científica. Sem sombra de dúvidas, parece ser esse o único e possível caminho para a compreensão, pelos futuros professores de ciências, do processo educacional e da própria produção de conhecimento nas diferentes áreas como práticas sociais.
Ao analisar as Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores disponibilizada pelo Ministério da Educação, são encontrados nos princípios básicos, norteadores para o exercício profissional os seguintes aspectos:
·           A competência como concepção nuclear na orientação do curso;
·           A coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor;
·           A pesquisa, com foco no processo de ensino e de aprendizagem.
Os manuais didáticos têm procurado transmitir que, ensinar requer tanto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento. Sendo assim, como então será possível atender aos aspectos listados acima durante a formação docente? Pimenta (2008, p. 48) afirma que: “A instância mediadora entre teoria pedagógica e práxis educacional repousa no educador (na sua ação), graças ao qual ela pode, enquanto ciência tornar-se prática na pesquisa e no ensino”.
Para tratar da formação profissional dos educadores, é encontrado em Nóvoa (1995) a indicação de que a história da formação de professores tem oscilado entre o modelo acadêmico com ênfase institucional e de conhecimentos fundamentais e o modelo prático fundamentado na escola e nos métodos. O autor propõe, como tentativa de superar os modelos anteriores, um modelo profissional. O modelo apresentado por Nóvoa teria como elementos do currículo três aspectos: o primeiro metodológico (ligado às técnicas), o segundo disciplinar (ligado ao saber específico), e o terceiro científico (ligado à ciência da educação).
Alguns autores, como por exemplo, Delizoicov (2007) propõem outros elementos que devem fazer parte da formação de professores na área além dos já citados. Por exemplo, as contribuições da História e da Filosofia da Ciência. Com base nas pesquisas desenvolvidas no Ensino de Ciências, Carvalho e Gil-Peres (1993), propõem aspectos que deverão constituir os conhecimentos de um professor de ciências. Os autores, fundamentados na ideia de aprendizagem como construções de conhecimentos com as características de uma pesquisa científica e na necessidade de transformar o pensamento espontâneo do professor indicam o que, professores de ciências, deverão saber e saber fazer.
Além de conhecer a matéria ensinada, é necessário conhecer e questionar o pensamento docente espontâneo, adquirir conhecimentos teóricos sobre aprendizagem e aprendizagem em ciências, desenvolver uma crítica fundamentada no ensino habitual, saber preparar atividades, saber dirigir a atividade dos alunos, saber avaliar e saber utilizar a pesquisa e a inovação. E aqui neste ponto destaca-se a importância do conteúdo científico na formação de futuros professores de Ciências (nos cursos de Ciências Biológicas) no que se refere à disciplina de Química que tem sido colocada de lado em detrimento dos conteúdos específicos da Biologia.
No ano de 2001, no curso de Docência do Ensino Superior, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, (UFRJ), quando da apresentação de trabalho final foram abordados, por esta autoria, alguns aspectos importantes acerca dos dilemas e a qualidade da educação. Na condição de educador, algumas questões formam-se com a observação e a experiência da prática diária. Prática que já se estende por mais de trinta anos. O que levou ao desenvolvimento da pesquisa acerca do tema citado. Tema que, está diretamente envolvido com a formação do educador no Brasil. Na época, para chegar ao entendimento do tema apresentado, o título escolhido referiu-se à qualidade da educação. E, no enredo escolhido, “qualificar a educação, é fazer com que ela seja capaz de dar ao homem cultura”, Costa (2001). Mas que cultura é essa?
Atualmente, a palavra cultura é uma palavra “poluída” por ser uma palavra usada com múltiplos significados. Em Nardi, Bastos e Diniz, (2004, p.58) é encontrada uma referência de Vigotski (1991) que é muito providencial: “o homem se constitui como tal a partir de suas interações sociais, transformando e sendo transformado pelas relações que produz em uma determinada cultura”. O conhecimento dá-se "pela vivência e pela cultura”, (Becker, 2008, p. 38).
Hoje, para tudo, o que se nota é uma total falta de cultura. Não se pode confundir cultura com talento ou com dotes naturais. Mesmo porque esses dotes naturais, quando existem, precisam de cultura para que possam ser plenamente desenvolvidos. Ainda neste contexto e retornando a Nóvoa (1995), para que o professor de Ciências possa assumir sua condição de profissional da educação, sua formação deve ser dada em pelo menos três dimensões culturais: a cultura política, a cultura pedagógica e a cultura científica. Para tal, é de fundamental importância, que esses profissionais conheçam o contexto ocupacional, a natureza do papel da profissão e possuam, principalmente, a competência profissional para ser professor.
A educação é a conquista da liberdade e da plenitude, mas está sempre cheia de entraves, está sempre sendo suprimida. É aprendendo que se faz cultura, é aprendendo que as pessoas ganham cultura. Mas como transferir esta cultura através da educação se há educadores, em sua maioria, totalmente despreparados? Para Guarnieri (2000), o professor novato, ao se deparar com sua prática pode, a qualquer momento, rejeitar ou até mesmo abandonar os conhecimentos pedagógicos recebidos durante seu curso de formação, assumindo uma postura pragmática, integrando-se à cultura da escola, tornando-se passivo e resistente às mudanças. Nos caminhos desta abordagem não há a presunção de esgotar o tema. Muito menos dar as respostas para tal questionamento. Mas, serão apresentados os motivos julgados importantes na busca da resposta ao dilema aqui levantado sobre a disciplina de Prática de Ensino e o ensino de Ciências.
Pavão e Freitas (2008) defendem a premissa de que a reflexão sobre as necessidades, os problemas e dilemas que vivem a escola são os pontos de partida para que sejam levantadas as prioridades na definição da função da escola e do ensino de Ciências. Já para Galiazzi (2003), outro dilema a ser superado pelos cursos de Licenciatura é feito de integração entre a Licenciatura e a realidade escolar. Há pouca consonância entre quem forma o futuro professor e os sistemas de ensino que o absorvem como profissional. Segundo Lüdke (1994), os professores universitários, em sua grande maioria, não têm conhecimento suficiente da realidade desses sistemas de ensino. Uma parcela significativa dos professores formadores não tem nenhuma vivência desse sistema de ensino como professores. E isso contribui para que haja um distanciamento ainda maior dos estudantes dos cursos de licenciatura e a realidade escolar.
Na linha dessa multiplicidade de linguagem, até a qualificação de "intelectual" assume feições equívocas. Intelectuais, se intitulam como artistas primitivos que, em sua grande maioria, nunca fizeram funcionar a inteligência. Sem querer acusar nenhum dos segmentos pesquisados neste trabalho (professores formadores e licenciandos), infelizmente através dos atuais equívocos transmitidos na formação universitária é que se mergulha neste “mar de incompetência” dos professores. E, desta forma, a culpa recai sobre quem forma. E forma mal.
Outro equívoco que obscurece a noção da cultura é o "saber especializado", que cada vez mais é o proporcionado pelas universidades. Essa tendência do ensino superior é irreversível. Cabe às universidades formar profissionais; e profissionais cada vez mais especializados. Muito de muito pouco, isto é, de incultos. Deve-se estar atento para o risco da "deformação especialista". E foi com esta mentalidade que se pode afirmar e agora reafirmar que é pela educação e aprendizado que o homem adquire cultura.
Os futuros professores devem ser formados também de maneira a se apropriarem da produção de conhecimentos, tanto do campo pedagógico, quanto daqueles específicos, e das possíveis articulações entre eles, o que hoje na grande maioria dos currículos pesquisados está comprometido. As diferentes disciplinas que compõem a matriz curricular das Licenciaturas em Ciências devem garantir de forma teórica e prática o acesso a esses conhecimentos, cada uma com sua especificidade.
Em síntese, no que diz respeito à Prática de Ensino, cabe ainda destacar que sua especificidade se dá exatamente na convergência entre dois saberes: o saber pedagógico e o saber científico. Nesta perspectiva, várias questões se colocam hoje no campo da educação científica e na sua articulação com a educação mais geral. Mas mesmo diante de tanta especificidade, cabe aos formadores a responsabilidade de ensinar a ensinar.

Metodologia e Detalhes da Execução

Certamente, este trabalho não é pioneiro em projetos desta natureza. Mas a simples mudança na forma de orientação aos futuros professores, durante a realização da disciplina de Práticas de Ensino, trará aos licenciandos uma maior segurança sobre o “como ensinar”. A título de exemplo, serão apresentadas algumas abordagens sobre a Tabela Periódica, partindo dos estudos dos Elementos Químicos, como orientar a sua pesquisa e o seu estudo, sejam em livros ou mesmo na INTERNET. Serão apresentadas ainda opções de aulas práticas que possam estimular os alunos e dar um andamento mais qualitativo às conclusões a serem alcançadas pelos alunos.
Cabe ao professor de Ciências a função de “balizador”, de fiscalizador do processo de aprendizado, pesquisa e orientação. Mas como executar tal tarefa? Como o professor em sua formação deve praticar essa metodologia? Como os formadores devem abordar essa técnica durante as aulas de Práticas de Ensino? A sugestão é a de que professores e pesquisadores façam um acompanhamento mais detalhado dessa metodologia ainda quando da formação inicial dos licenciandos.
Dentre os vários tópicos de Ciências que devem ser abordados no 9° ano de escolaridade do ensino fundamental é a Tabela Periódica, talvez um dos assuntos mais complicados a ser ensinado por professores recém formados. Para esse assunto é importante que o professor insista na idéia de que a Tabela Periódica foi um instrumento desenvolvido por cientistas para ser consultado e não decorado, como muitos alunos pensam. Sendo assim não se deve, em hipótese alguma, pedir aos alunos que memorizem a posição dos elementos. Deve-se, sim, explorar a que tipo de conclusões tanto micro, como macroscópica, o aluno pode tirar ao observar a posição dos elementos na organização de Mendeleev. Essa atitude deve estimular o senso à pesquisa por parte dos alunos. Mas deve ser uma pesquisa que possa ser realizada pelos alunos e que traga bons resultados.
O professor, no exercício da sua profissão deve entender que é papel da escola e, consequentemente do educador, criar situações para que o discente seja levado à procura do conhecimento; para que tenha oportunidades para desenvolver suas habilidades. Desta forma, entende-se que, para realizar os trabalhos escolares, os alunos devem ser “balizados”, orientados a desenvolver as habilidades de procurar a informação de forma correta. Devem ainda, selecionar os pontos mais importantes das informações encontradas e comparar essas informações, julgando as mais importantes para a sua pesquisa, tomar a decisão de escolher a que melhor lhe convir e, finalmente emitir, se for o caso, uma crítica a respeito do que foi encontrado na pesquisa escolar. Quando algum ou alguns desses pontos não são observados pelos professores, os alunos deixam, por conseguinte de realizar uma pesquisa adequada e passam a fazer apenas “cópias de trabalhos”, o que é chamado de plágio ou utilização indevida de material que não é de sua autoria. Uma prática que talvez seja muito característica da cultura pós-livro (Silva, 2008).
Sugere-se que trabalhos desta natureza devam ser realizados em três etapas: aplicação dos conteúdos de química em sala de aula – aqui, no caso escolhemos como assunto: os Elementos Químicos e a Tabela Periódica; realização de aulas práticas (quando possível) e utilização orientada de material informativo da INTERNET previamente escolhido.
Para a aplicação dessa metodologia sugerem-se pelo menos três aulas. Na primeira aula, devem ser apresentadas as demonstrações práticas em laboratório pertinentes ao assunto abordado. Na segunda aula, a parte teórica deve ser aplicada em sala com a apresentação do conteúdo previsto para a disciplina. Neste caso trabalhando o conteúdo sobre “Elementos Químicos”. Com a elaboração dos planos de aula, deve ser feito um roteiro do conteúdo e os recursos que serão utilizados durante as aulas. Em uma terceira aula, no laboratório de informática, devem ser apresentados e discutidos os conceitos de pesquisa, os vários tipos de fontes disponíveis na INTERNET para que os alunos se familiarizem com as matérias disponíveis e reconheçam as diferentes formas de apresentação.
Para a realização do trabalho de pesquisa escolar, os alunos devem ser orientados a acessar publicações, como por exemplo, da “Química Nova na Escola” via INTERNET através do laboratório de informática da escola ou de suas casas à procura de informações sobre os elementos químicos estudados durante as aulas práticas e/ou teóricas. Essa revista eletrônica apresenta em cada publicação a história dos elementos químicos, bem como suas características e aplicações.
Sempre que possível, as aulas práticas de química devem ser alternadas com exposições orais de forma que se possa explicar o que está acontecendo no momento da realização daquele procedimento. As práticas podem ser realizadas em laboratório ou na própria sala de aula. Quando possível, uma prática que deve ser demonstrada, e que aqui tomamos como exemplo, é o ensaio-de-chama (é uma técnica analítica simples para identificar elementos químicos presentes numa amostra - análise elementar por via seca que utiliza a espectroscopia). As características espectrais (cores) de alguns elementos químicos presentes em algumas substâncias contribuem para que os alunos assimilem os conceitos abordados. É um efeito visual muito bonito e que prende a atenção dos alunos. A prática do ensaio de chama pode ser realizada com o auxílio de uma lamparina a base de querosene ou álcool. Uma alça metálica pode ser usada para levar até a chama alguns cristais das substâncias que contenham algum elemento químico que emita colorações diferenciadas.

Após este primeiro contato com alguns dos elementos químicos, sugere-se que sejam explorados os símbolos dos elementos, a organização dos elementos químicos, a tabela periódica e a classificação desses elementos. Com essas abordagens, os licenciandos devem ter em mente que os objetivos a serem alcançados pelos seus futuros alunos serão:
·         Reconhecer e saber utilizar os símbolos da tabela periódica;
·         Compreender os enunciados de questões que envolvam símbolos químicos;
·         Compreender e reconhecer a importância da utilização de fórmulas, símbolos e representações químicas;
·         Observar o mundo ao seu redor e identificar a presença da Química em diferentes situações;
·         Entender o significado dos símbolos químicos.
Sabe-se que o ato de classificar sempre foi e continua sendo uma preocupação muito grande por parte da Ciência, pois as classificações têm como finalidade fundamental, organizar os assuntos, facilitando o estudo. De modo geral, à medida que os conhecimentos vão sendo ampliados, as classificações vão sendo alteradas, de maneira que acompanhem essa evolução, que é constante. Sendo assim, toda e qualquer classificação tem uma história, que vai desde as primeiras tentativas de organização até as diversas situações do momento. E não poderia ser diferente com a classificação utilizada para os elementos químicos e a tabela periódica.
Os alunos dos cursos de licenciatura devem ser preparados para também explorar as fases históricas pelas quais passaram o desenvolvimento da Ciência. Aqui, no caso, a história dos elementos químicos e a história da tabela periódica. Livros como, por exemplo: O Sonho de Mendeleev de Paul Strathern e O Tio Tungstênio de Oliver Sacks devem ser lidos ainda no início da licenciatura.
Atualmente, os elementos químicos são classificados em três grupos (metais, não metais e gases nobres) e organizados segundo uma tabela, que se baseia na primeira tabela proposta em 1869 por Mendeleev. O aluno do curso de licenciatura deve ainda saber que, a rigor, devemos falar em quatro grupos, pois o hidrogênio deve ser tratado à parte, devido às suas propriedades peculiares.
Um assunto que deve ser bem explorado no tema dos elementos químicos e da tabela periódica versa sobre os minérios. Deve-se iniciar com o conceito de minério. E o mais restrito de todos e certamente o mais antigo é o que consta no Dicionário de Química publicado por Carraro (1967, p. 262): “Minério é todo mineral ou associação de minerais que serve como matéria-prima em um processo industrial, quase sempre metalúrgico, do qual se pode extrair um ou mais metais”. Entretanto, nos dias atuais, não é dessa forma que se pensa, pela razão de que muitos minérios não são representados por um mineral, mas por uma rocha que é um agregado de minerais.
Para o desenvolvimento das aulas teóricas sobre a Tabela Periódica sugere-se um trabalho dividido em duas etapas:
I)             Aplicação dos conteúdos em sala de aula, com uma Tabela Periódica afixada na parede ou no quadro e um exemplar da tabela para todos os alunos e a aplicação de uma lista de exercícios (dez questões, cinco objetivas e cinco discursivas);
II)           No Laboratório de Informática da escola ou de suas casas deverá ser feita a consulta a uma Tabela Periódica “on line”, e respondida uma nova série de exercícios. Sugere-se novamente que sejam sempre cinco questões discursivas e cinco questões objetivas.

Observe-se que devem ser analisadas várias páginas disponíveis para a pesquisa sobre elementos químicos. O sítio escolhido para ser citado neste projeto foi a “Revista Química Nova na Escola” através do endereço http://qnesc.sbq.org.br/, mas existem outros sítios com a mesma qualidade e confiabilidade das informações disponibilizadas.
Nas aulas expositivas e de pesquisa, sugere-se ainda que deva ser tentado o trabalho de interdisciplinaridade com a ajuda de professores de português e redação, para que os alunos recebam, por exemplo, a orientação sobre as etapas de um trabalho escolar (introdução, desenvolvimento, conclusão, anexos, referências bibliográficas, etc.).
A intenção é fazer com que os futuros professores sejam conscientizados que a estimulação à pesquisa escolar, antes da aplicação dos conteúdos estipulados para a série, é de fundamental importância. Para tanto, é necessário que o professor, no exercício da sua profissão, considere à priori os seguintes aspectos:
a)   Discutir com os alunos o conceito de pesquisa;
b)   Apresentar exemplos de fontes seguras de pesquisa na INTERNET;
c)   Mostrar as etapas necessárias para a elaboração de um bom trabalho de pesquisa;
d)   Dar a oportunidade para a realização de trabalhos de pesquisa escolar sobre alguns assuntos relativos à disciplina;
e)   Orientar o acesso às informações contidas nas fontes de pesquisa;
f)    Levar o aluno a fazer uso adequado e responsável das informações existentes na INTERNET;
h)   Informar sobre a questão do direito autoral (citação e referência bibliográfica);
i)    Conscientizar o aluno sobre a importância da leitura para a elaboração do trabalho de pesquisa;
g)   Colaborar para a uniformização e a padronização da apresentação dos trabalhos escolares também em outras disciplinas.

Conclusão

Deve ser entendido pelos formadores e pelos licenciandos que a divulgação científica é fundamental para a popularização da ciência, pois o ambiente científico é muito carente em oportunidades e, mais importante, nossa educação escolar básica sofre com a escassez de recursos humanos, meios e infra-estrutura para divulgação do conhecimento científico. E aqui se acrescente que, é preciso que a ciência e a tecnologia sejam de domínio público, tendo-se obviamente, a necessidade de divulgá-las.
Com este enfoque é de fundamental importância que os futuros professores tenham a orientação inicial adequada sobre as novas tecnologias que podem ser aplicadas às aulas de ciências. Sugere-se ainda a participação efetiva dos novos professores em projetos de Feiras de Ciências e de Mostras Culturais Pedagógicas, que além da divulgação científica, abrange as áreas de Arte, Cultura e Ciências, nas suas mais variadas formas de expressão e modalidades. Ela favorece a troca de experiências entre alunos, professores e demais participantes, promove o desenvolvimento da criatividade e da capacidade inventiva e investigativa nos alunos, além de provocar o diálogo entre as representações discentes e docentes.
Não se pode esquecer que a escola é um local de produção de conhecimento e é necessário estarmos atentos para esta necessidade humana fundamental – o diálogo. E como citado em Pavão e Freitas (2008, p. 195), que seja um diálogo o mais amplo possível.
Finalmente, espera-se que este projeto possa contribuir para a melhoria do nível dos trabalhos de pesquisa realizados pelos alunos e ainda com a melhoria da qualidade das aulas que serão ministradas pelos futuros professores, os licenciandos de hoje.

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