A RELAÇÃO ENTRE A MATEMÁTICA APREENDIDA NA ESCOLA E NOS DIVERSOS CURSOS DE GRADUAÇÃO - ONDE E COMO ESTÃO SENDO USADOS OS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS EM PRÓL DA SOCIEDADE

A RELAÇÃO ENTRE A MATEMÁTICA APREENDIDA NA ESCOLA E NOS DIVERSOS CURSOS DE GRADUAÇÃO - ONDE E COMO ESTÃO SENDO USADOS OS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS EM PRÓL DA SOCIEDADE 

COSTA, NELSON LAGE*;  PIVA, TERESA CRISTINA DE CARVALHO** 

*Universidade Estacio de Sá – UNESA 
** Universidade Veiga de Almeida e Centro Universitário Celso Lisboa 
nelsonlage@ig.com.br - teresa.piva@yahoo.com.br 

Resumo: 

Nem sempre é possível atrelar os diversos conteúdos apresentados durante o Ensino Básico ou até mesmo Universitário às situações e vivências do dia-a-dia da sociedade. Como pode um professor de matemática aplicar cada um dos assuntos ao cotidiano dos alunos ou ao futuro de um profissional se não foi preparado para tal tarefa? 
Sabe-se que no atual modelo pedagógico, os docentes são preparados para mostrar a utilização das fórmulas e das regras utilizadas na Matemática através de um treinamento de aplicação, mas não com uma aplicação socializada, ligada às muitas atividades humanas. Apresentam-se aos alunos apenas definições, exercícios como modelos a serem seguidos, ou seja, práticas de aplicação. Diante desta conduta aparecem constantemente as perguntas: Para que serve isso? Onde aplicar? Por que é desta forma? De onde veio isso? 
Este artigo apresenta os resultados de um trabalho que, dividido em três partes, foi desenvolvido durante cinco anos com alunos de Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior onde se levou em consideração: inicialmente a forma como os alunos do Ensino Fundamental viam a Matemática no contexto social em que estavam inseridos, em segundo lugar, quais são as relações que os alunos do Ensino Médio encontraram entre o estudo da Matemática que lhes foi oferecido levando-se em consideração outras Ciências, com aplicabilidade nos exames de acesso ao Ensino Superior. E finalmente, como os alunos consideraram a possibilidade de aplicação da Matemática no cotidiano e no seu futuro profissional. 

Palavras-chave: Matemática e Sociedade; Metodologia de Ensino; Conhecimentos Matemáticos. 


A INSERÇÃO SOCIAL DA MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL 
O critério para seleção foi o sorteio e o quantitativo foi de, 15 alunos do 9° ano do Ensino Fundamental de uma escola particular do interior do Estado do Rio de Janeiro. Esses alunos foram acompanhados e orientados durante a realização do seu curso de formação fundamental por dois professores de Matemática, participantes desta pesquisa. Levou-se em consideração a prática pedagógica do educador e filósofo brasileiro, falecido a pouco menos de 20 anos, Paulo Freire (1996) e do filósofo e sociólogo Pedro Demo (2003) que defendem a educação por meio da pesquisa. Desta forma o grupo de alunos selecionados, receberam orientações semanais sobre várias formas de pesquisa e de experimentação em Matemática. Com base na teoria de Edgar Morin (2004), que conduz a revisão das práticas pedagógicas da atualidade, os professores receberam a incumbência de modificar suas práticas pedagógicas com a turma de 15 alunos com a finalidade de que fizessem em todas as suas 
aulas, inserções de aplicações com problemas diretamente ligados ao dia-a-dia e aos problemas vividos em seu meio social. 
Apesar de não ser possível apresentar neste pequeno artigo todos os passos desta caminhada de cinco anos iniciada com os alunos do 9° ano, algumas estratégias podem ser facilmente citadas. Por exemplo, a substituição de atividades de construção de gráficos com o auxílio de jornais e revistas; o uso de calculadoras como auxiliadora do desenvolvimento e estruturação de problemas; a prática no uso de laboratório de informática para a utilização de softwares matemáticos; o uso de celulares para acesso a grupos fechados de estudos de matemática; a análise de situações domésticas como, por exemplo, idas aos supermercados, controles de orçamentos domésticos, gerência de gastos com energia elétrica e consumo de água. Estes foram apenas algumas das atividades pelas quais passaram os 15 alunos do Ensino Fundamental durante o ano de 2011. 
Baseado na explicação de Edgar Morin (2004): “O conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente. É preciso situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido. [...] uma sociedade é mais que um contexto: é o todo organizador de que fazemos parte. [...] O todo tem qualidades ou propriedade que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras (2004, p.36-37). 
Os professores envolvidos nesta etapa da atividade entenderam a real necessidade de situar a educação matemática dos alunos participantes da pesquisa, nos desafios e incertezas dos dias atuais, em que o conhecimento deve ter a capacidade de abordar o processo de ordem e suposta desordem e a natural organização que orientam a vida social dos próprios alunos. 


A RELAÇÃO ENTRE A MATEMÁTICA E O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR 

Dos 15 alunos que participaram da primeira etapa do projeto/pesquisa, apenas 10 alunos renovaram suas matrículas na mesma escola para a realização do Ensino Médio. Os dois professores voluntários permaneceram no projeto já que também atuavam no Ensino Médio. Nesta escola, o ensino de Matemática tem seu conteúdo dividido em Matemática I, II e III durante os três anos do curso que é de Formação Geral. Nesta etapa do projeto, a forma de trabalho com os alunos continuou a levar em consideração que o dia-a-dia do ser humano é lidar com resoluções de problemas e todos com viés social, já que é desta forma que são cobrados no Exame Nacional do Ensino Médio, ENEM, que possui o objetivo de avaliar o desempenho dos estudantes ao final da escolaridade básica. 
A “resolução de problemas” é um dos temas mais discutidos no Brasil, no ensino da Matemática e, os primeiros autores na implementação desta discussão foram os teóricos e matemáticos Dante (1989) e Polya (1995), pois, segundo os autores, trabalhar com problemas matemáticos poderá favorecer ao aluno uma melhor compreensão dos conteúdos, se estes estiverem relacionados ao seu dia-a-dia. 
Da mesma forma como foi feito no 9° ano do Ensino Fundamental, durante os 3 anos do Ensino Médio, Os alunos continuaram com seus conteúdos relacionados com as estratégias de ensino desenvolvidas e atividades práticas da vida cotidiana. 
No entanto, como o objetivo principal era o acesso ao Ensino Superior através do ENEM, às avaliações eram bimestrais, e levaram-se em consideração as competências e habilidades aprendidas durante todo o processo escolar ao exercício pleno da cidadania, com muita contextualização e interdisciplinaridade, sempre considerando a ligação entre os conteúdos e o raciocínio lógico para resolver os problemas. 
Durante os três anos, o alto desempenho dos dez alunos foi notório em confronto ao desempenho dos alunos de outras turmas. As comparações foram registradas a cada bimestre com a utilização de provas escritas, testes, trabalhos de pesquisa, apresentações de seminários, e até mesmo peças teatrais com temas matemáticos e/ou com aplicações de tópicos matemáticos em situações do cotidiano dos alunos envolvidos no projeto. 
Ao final dos três anos, somente 9 dos 10 alunos foram submetidos ao exame do ENEM e os resultados não podiam ser diferentes do esperado. A nota mínima foi de 730 pontos – óbvio que as carreiras escolhidas foram diversas; variando em áreas de exatas, de saúde e de humanas. Os nove alunos foram matriculados no primeiro semestre de 2015 em Universidades públicas ou particulares. 


A APLICAÇÃO DA MATEMÁTICA NO COTIDIANO SOCIAL DOS GRADUANDOS 

Esta última fase do projeto não estava prevista no início do plano até que, para surpresa dos idealizadores da pesquisa, dois alunos que participaram do projeto desde o seu início em 2011 vieram a se matricular em uma das Instituições de Ensino Superior onde leciona um dos autores deste artigo. Um dos alunos estava matriculado no curso de Tecnólogo em Radiologia e o outro no de Engenharia de Produção. E com esta feliz coincidência foi possível continuar com o projeto agora no Ensino Superior. 
O acompanhamento dos alunos que participaram durante os cinco anos do projeto, agora na graduação, mesmo que em apenas um semestre, propiciou o registro do comportamento diferenciado que os mesmos apresentaram durante as aulas de Matemática Aplicada a Imaginologia (no caso do aluno do curso de Radiologia) e de Fundamentos do Cálculo (no caso do aluno de Engenharia de produção). Em ambos os casos percebeu-se que os alunos entendiam como cidadãos as aplicações que os conteúdos se propunham. 
Ficou claro o entendimento para estes alunos que participaram do projeto, agora universitários; de que a Matemática está presente na vida de todo cidadão, portanto, na atualidade da formação de suas vidas profissionais. Mostraram ainda com muito mais simplicidade a compreensão de que os princípios básicos dessa ciência podem e devem ter de aplicação, a tomada de decisão diante de problemas que a profissão exigirá além de uma busca um tanto quanto diferenciada do senso crítico. 
Não será possível descrever aqui todos os diálogos que foram realizados entre professores e os alunos participantes da pesquisa, da mesma forma que não serão mostrados os inúmeros registros de diálogos, durante as aulas dos alunos com as suas turmas. Mas pode-se destacar a influência efetiva que tiveram em suas turmas. A postura simplista na aceitação dos conteúdos pelos alunos envolvidos na pesquisa contagiou diversos alunos. Novos grupos de estudos e pesquisa foram formados e é importante registrar a ajuda dos dois universitários que se tornaram monitores das disciplinas para o segundo semestre de 2015. 


CONCLUSÃO 
Talvez a ideia mais aceita socialmente seja a de que a didática da Matemática, através da Educação Matemática se ocupe mais em “como ensinar”, do que “por que ensinar” ou ainda do “como aplicar” os conteúdos ensinados aos alunos nos diferentes níveis de escolaridade, em suas vidas. A concepção que se deve considerar é a de que para ser aceita socialmente, a matemática através dos seus professores, se aproprie verdadeiramente de propostas mais óbvias de aplicabilidade, sem é claro esquecer ou deixar de lado o rigor que alguns conteúdos exigem. 
Os docentes que têm como alicerce somente as aulas expositivas e fazem da escola apenas um grupamento de salas de aula com carteiras e alunos, onde se depositam conceitos e exercícios mecanizados, esquecem que as verdadeiras aulas vão muito além. O docente que pensa na inclusão e aplicação social da Matemática, trilha caminhos com propostas de problemas vinculados aos conteúdos, com critérios de escolhas que realmente mostram aplicações diferentes, com diferentes técnicas de 
ensino, utilizando os recursos disponíveis nas escolas independentemente de classe social, e em que nível de escolaridade estiver os alunos. Tudo dependerá sempre da vontade do professor em vencer os obstáculos que a própria sociedade irá lhe impor. 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
BAGNO, Marcos. 2005. Pesquisa na escola. O que é como se faz. São Paulo, SP: Edições Loyola. 
BICUDO, Maria Aparecida V. (org.). 1999. Pesquisa em educação matemática: concepções e perspectivas. São Paulo, SP: Editora Unesp. 
BRASIL. 1998. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF. 
D’AMBROSIO, Ubiratan. 1996. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas, SP: Papirus. 
DANTE, Roberto Luiz. 1995. Didática da resolução de problemas de matemática: 1ª a 9ª série. 4ª Ed. São Paulo: Editora Ática. 
DEMO, Pedro. 2003. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados. 
FREIRE, Paulo. 1996. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, SP: Paz e Terra. 
KENT, Beverly. 1992. “Peirce’s Estétics: A new look” – Transactions of the Charles S. Peirce Society. In: SANTAELLA, Lucia. A assinatura das coisas: Peirce e a literatura. Rio de Janeiro, RJ: Imago. 
MORIN, Edgar. 2001. A cabeça bem-feita: repensar a reforma reformar o pensamento. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil. 
MORIN, Edgar. 2004. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo, SP: Cortez. 
PARATELI, Conceição A.; CRISTOVÃO, Eliane M.; ABREU, Maria G. S.; PONTES, Regina C. M.  2006. A escrita no processo de aprender matemática. In: Histórias e investigações de/em aulas de matemática. Campinas, SP: Editora Alínea. 
POLYA, G. 1995. A arte de resolver problemas: um novo aspecto do método matemático. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Interciência. 
SOUZA, Antonio C. C. DE. 1999. O reencantamento da razão: ou pelos caminhos da teoria histórico cultural. In: BICUDO, Maria Aparecida V. (org.). Pesquisa em educação matemática: concepções e perspectivas. São Paulo, SP: Editora Unesp. 
TARDIF, Maurice. 2002. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes. 

Comentários

  1. Exatamente o que penso enquanto aluna,que passou pelo "ensino pobre", didaticamente falando, e conheci uma matemática "possivel",através de um mestre que tem o aluno como alvo de investimento em suas potencialidades.
    Artigo maravilhoso ,que reflete a verdade!

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    1. Miss Deia, obrigado por acessar o conteúdo. Há outras publicações que podem ser do seu interesse. Peço que ajude a divulgar o Blog nas redes sociais. Há muitos alunos que precisam dos materiais disponíveis no Blog. Grande Abraço

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  2. Se a Matemática não for valorizada...Perderemos a corrida tecnológica (principalmente nas áreas de Programação). Excelente texto

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