FOUCAULT ATUAL: RENOVAR VALORES EM PROL DA SOCIEDADE
FOUCAULT ATUAL: RENOVAR VALORES EM PROL DA SOCIEDADE
(Texto construído à partir de materiais disponíveis na INTERNET e bibliografia citada no fim do texto)
Celso Luis Soares Sobrinho
Nelson
Lage da Costa
Mestres
em Ensino de Ciências
É fato e inegável que a
sociedade contemporânea vive uma crise de juízo de valores, crise essa que
induz a incipientes relações de moralidade e concepções de éticas duvidosas em
seu caráter mais subjetivo, o que alguns autores contemporâneos, chamam de
pluralismo ético.
Também não se pode contestar
que vivemos em uma sociedade capitalista em que o consumo, e o estímulo a este,
é cada vez mais exacerbado. A consequência implícita desse cenário é o aumento
da competitividade e do individualismo, afetando de maneira profunda, relevante
e talvez irreversível, as relações sociais do nosso tempo. Diante desta
situação, somos levados a pensar em duas questões a serem discutidas:
- Numa sociedade atual mais “aberta”,
cujos valores ditos tradicionais, instituídos basicamente por família e Igreja
estão sendo “corroídos”; como deve ser tratada a educação moral e a compreensão
da ética?
- Como o conceito de ética é
teórico e subjetivo, e os valores morais de caráter prático e comportamentais, num
mundo individualista e multicultural sobrevivem, em intensa, e já sabida, crise
de valores; de que forma mudanças na educação formal podem contribuir para estimular
a discussão, nos ambientes escolares, de princípios de moral e de ética?
INTRODUÇÃO
Heidegger (1889-1976)
pode nos ajudar, inicialmente, a buscar respostas a essas questões, a partir da
visão que a dimensão ética é como “uma morada, um habitar”, ou seja, os costumes
(e aí a cultura exercerá papel fundamental) determinam valores e posturas que
permanecem alicerçados em corpo e alma e guiarão as condutas para consigo mesmo
e para com os outros.
Assim, é vital que a família retome a sua função protetora original. Não uma
proteção que intencione a reclusão do ser humano ao ambiente que o cerca, mas
uma proteção limitadora que aja como fio condutor para as atitudes do
indivíduo. Atitudes que possam, de alguma forma, evitar a banalização dos
valores morais públicos (justiça, honestidade, respeito mútuo, etc.).
Segundo Foucault (1926-1984),
sob a influência do habitar de Heidegger, sugestiona que a morada do homem é
uma forma de vida (estética existencial)
que num mundo inevitavelmente individualista produz no indivíduo a procura pela
extrema perfeição, ressaltando assim, o problema da dimensão ética. A esta
problemática Foucault denominou cultura das práticas de si (técnicas de si).
Desta forma, é inegável concluir que a família é de fundamental
importância para o crescimento do indivíduo; as situações com que este se
depara no convívio com sua família é que darão a sustentabilidade e a
capacidade de tomada de decisões para consigo mesmo e para com as
imprevisibilidades a que estará sujeito em seu percurso de vida.
Podemos entender, dessa forma, que todas as relações vivenciadas criam
marcas que carregamos para relações posteriores. Mas, nessas relações, somos
sempre algo mais do que já havíamos vivido, sem, no entanto, perder as influências
que já havíamos absorvido. Ou seja, o que Foucault deseja mostrar é que a
continuidade de uma sociedade cada vez mais egoísta, no sentido da busca de
sucessos individuais é praticamente irreversível e acentuada pela recusa em
admitir que somos moldados por heterogeneidades de relações vividas a priori e que serão vividas a posteriori[1].
Percebe-se assim, que moral e ética não podem ser ensinados como
conceitos “fechados”, como se fossem leis irrefutáveis. Torna-se então
essencial, e até mesmo emergencial, que se busquem alternativas para uma
renovação de valores. Valores esses que não podem ser pretensamente consensuais
a todas as sociedades, mas que sejam consentidos por cada sociedade em suas
especificidades e por todos os seus âmbitos.
Atravessamos nos dias atuais uma crise
de valores. Esta crise, juntamente com o aumento da violência está nos
conduzindo a três gravíssimas consequências: a banalização da vida; ao aumento
de respostas violentas em resposta às humilhações e ao desconhecimento dos
valores éticos públicos.
Desta forma, a educação moral e a compreensão da ética só serão efetivas,
se forem dinâmicas, ou seja, se forem constantemente debatidas e atualizadas
sem que haja a elaboração de uma “cartilha”. Compreende-se que somente a “escola”
em todos os seus níveis têm, nesse contexto, a função de, a partir da educação,
ser o agente de renovação de valores éticos e de objetivos morais, dependendo
em grande parte da atuação do professor. Remetendo a Sucupira, em Ética e Educação
“...o homem torna-se o que é mediante o que ele faz e como se comporta, isto é,
ele se comporta de certa maneira por causa do que tem sido.” (SUCUPIRA, 1999,
p.33). Daí, a imprescindibilidade do professor também renovar e edificar seus
valores.
REVISÃO E RENOVAÇÃO SOCIAL
Não propomos, com esta modesta análise, que devemos abdicar dos valores
ditos tradicionais, e que consideramos fundamentais e já instituídos pelo ser humano.
Também não é nossa intenção a promoção de que o melhor que podemos ter hoje é o
culto ao prazer sem limite e a permissividade social. Entendamos o termo renovação, não como uma mudança
integral, mas como o revigoramento de valores necessários para uma sociedade
mais justa, auxiliados pela atualização (que se fizer relevante), dos juízos de
valor que eventualmente possam ser revistos.
Nosso objetivo é assim, mostrar que as sociedades são dinâmicas e que as
pessoas exercitam interações e que, para a avaliação de princípios éticos e
morais, essas características não podem ser desprezadas.
Neste sentido, Foucault representa de modo indiscutível, o pensamento
mais límpido, mais claro e mais ilustrativo do tempo em que vivemos, sugerindo
que, o que nos faz ser o que somos depende das interações com a coletividade. Ou
seja, com os rastros do passado, com os passos que serão dados no futuro e como
vamos reagir às tensões causadas pelas relações com esse coletivo e as tensões
reflexivas (tensões consigo mesmo).
Temos que pensar que as técnicas de
dominação (relações de poder) e as técnicas
de si (relações subjetivas) devem estar em equilíbrio constante, pois o
exagero da primeira, leva para citar uma única palavra, à intolerância e, o
exagero da segunda leva a um individualismo prepotente (mínimo eu) que
contribui em muito pouco para uma ética de valorização do ser humano.
Vamos então reafirmar aqui uma das principais
contribuições de Foucault para o estudo genealógico das subjetividades que
residente na concepção do que é abrangido pelo campo da ética. Na concepção de
Foucault há uma separação de domínios: o
dos códigos morais e o dos atos ou condutas.
Para Foucault as éticas não só refletem diferenças nos
modos de subjetivação, mas participam da constituição das subjetividades. Isto
equivale dizer que as éticas são vistas como dispositivos ensinantes de subjetivação.
Elas efetivamente sujeitam os indivíduos, ensinam, orientam, modelam e exigem a
conversão dos homens em sujeitos morais e determinados.
Para Foucault, tanto os códigos de prescrições e
proibições são históricos e sujeitos e ampla variação, além de possibilitarem
várias combinações. A pergunta então proposta por Foucault é a seguinte:
“Como nós constituímos nossa
identidade por meio de certas técnicas de si que se desenvolveram desde a
antiguidade até nossos dias?” (Foucault, 1994, p.814)
Neste contexto, atrevemo-nos a afirmar que este problema
pode ser resolvido, resolvendo o problema do “habitar” ou seja, “uma ética
institui uma troca regulada de afetos e obrigações recíprocas entre os
indivíduos”. É um “habitar sereno e confiado” que pode dar ao indivíduo uma
estrutura de alicerce moral firme e sólida.
CONCLUSÃO
Para Foucault falta-nos a morada ampla e sólida,
resistente e exclusiva. A família deixou de ser o lugar privilegiado do “social
privado”. Para a mudança de comportamento individual faz-se então necessária
uma mudança no comportamento familiar.
Em seu livro Educação e Poder, Moacir Gadotti (1998,
p.60) utiliza uma expressão de Paulo Freire que nos atrevemos a repetir:
“... existe uma educação da reprodução da sociedade, que seria uma
educação como prática da domesticação e, no outro extremo, uma educação da
transformação, que seria a educação como prática da libertação”.
Falamos de mudanças sociais, retrucamos os valores
esquecidos pela sociedade. Faltou-nos a “escola”. A escola tem sido denunciada
tempestivamente como a mais conservadora das instituições. Segundo Fabris (2001,
p. 91), a escola está presa a um tempo e espaço anacrônico e lento, a um espaço
e tempo do passado e do futuro, jamais do presente. Segundo a autora, “é como
se a escola vivesse no passado, preparando seu contingente (alunos e alunas)
para que o futuro e o presente ficassem suspensos, não existissem”
Finalmente, resta-nos afirmar que estas mudanças
dependerão não de nós, mas dos multiplicadores que iremos formar em nossa
sociedade através das nossas escolas e academias daqui para a frente. Sejam
eles (os multiplicadores) pais, alunos ou professores, todos deverão estar dispostos
a participar da “reconstrução das novas moradas” com formas legítimas de
condutas.
Temos que ser racionalmente críticos, em busca de
espaços de vivência da criação para enfrentar os conflitos cotidianos hodiernos.
O futuro nos aguarda.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, N. L. A Formação do Educador no Brasil. Qualificar a
Educação – é fazê-la capaz de dar ao homem cultura. [monografia de
especialização]. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.
FABRIS, E. H. A
Educação em Tempos de Globalização. Rio de Janeiro, DP&A Editora,
2001.
FIGUEIREDO, L.
C. Foucault
e Heidegger. A ética e as formas
históricas do habitar (e do não
habitar). Tempo Social:Ver.
Sociol. USP, São Paulo, 7(1-2), p. 136-149, 1995.
FREIRE, P. Educação
como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 2001.
GADOTTI, M. Educação
e Poder – Introdução à Pedagogia do Conflito. São Paulo, Editora
Cortez, 1998.
SILVA, N. P. Ética,
Indisciplina & Violência nas Escolas. Petrópolis, Editora Vozes,
2004.
[1] Nesse
último período, a idéia apresentada está baseada no conceito de mínimo-eu de Foucault
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